Crianças egressas da UTI neonatal



Crianças egressas da UTI neonatal

O município de Rio Grande, fundado em 10 de fevereiro de 1737, está localizado na planície costeira sul do Estado do Rio Grande do Sul. Com uma superfície territorial de 3.338,35km² e aproximadamente 197.228 habitantes (IBGE, 2010) tem como sua principal fonte de economia e renda o setor secundário, numa ampla interação com o sistema viário liderado pelas instalações portuárias. Possui aproximadamente 17.544 crianças na faixa etária de zero a seis anos, das quais +++++++ são assistidas pela rede de Educação Infantil e Programa Primeira Infância Melhor – PIM.

O Programa Primeira Infância Melhor foi implantado no município em setembro de 2005. Atualmente abrange quatro bairros através de 13 visitadores, orientando 232 famílias e 16 gestantes, beneficiando 261crianças de zero a seis anos, em situação de vulnerabilidade social. O programa no município vem se desenvolvendo com o reconhecimento dos gestores municipais, da comunidade e principalmente das famílias atendidas, que destacam as mudanças que o PIM proporcionou no desenvolvimento integral de seus filhos.

O PIM focaliza o Projeto “Crianças Egressas da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Neonatal”. Este projeto vem ampliar as ações do PIM no município, pautando assim o atendimento às crianças nascidas de forma prematura e/ou egressas de hospitalizações, por vezes longas, por vezes contínuas, mas sabidamente sempre com sequelas mais ou menos aparentes, restritivas ou graves.

Para a implantação do PIM, conforme preconiza sua estrutura e funcionamento, houve a I Capacitação para Visitadores, em agosto de 2005, em que participaram palestrantes de áreas multiprofissionais, entre eles, uma pediatra neonatologista, que abordou o tema: “Conseqüências da Hospitalização no Recém-Nascido (RN)”, dando ênfase ao Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM).

A partir deste encontro, a pediatra neonatologista, ao perceber a importância do
PIM, pelos ganhos que oferece às famílias com gestantes e crianças de zero a seis anos,
sondou o Grupo Técnico Municipal (GTM) quanto à possibilidade do PIM acompanhar
também as famílias de crianças egressas da UTI Neonatal.

Conforme relata a profissional, Médica da UTI Pediátrica: “Tenho visto vários recém- nascidos extremamente pequenos e/ou doentes saírem da UTI Neonatal, após alguns meses de internação. Isto é muito gratificante, porém todo trabalho e investimento neste pequeno ser necessita de continuidade e de acompanhamento multidisciplinar, oportunizando assim a avaliação de uma melhor qualidade de vida e, fundamentalmente, o adequado relacionamento com seus familiares”.




Frente a esta demanda o GTM elaborou o Projeto “PIM – Crianças Egressas da UTI Neonatal” e o enviou para apreciação do Grupo Técnico Estadual (GTE) o qual foi aprovado em novembro de 2005. Utilizando a estrutura e o funcionamento do PIM, a forma de atendimento a essas crianças foi adaptada com a designação de um visitador devidamente instrumentalizado e capacitado para desenvolver o projeto, tendo como atribuições: conhecer o perfil das crianças, ter disponibilidade para atuar em vários bairros, iniciar o trabalho na Unidade Intermediária Hospitalar para criação de vínculo do visitador com a família, contribuir para a orientação das famílias a partir de suas experiências, com vistas a estimular e alcançar o máximo desenvolvimento das crianças.

Estabeleceu-se como critério básico, para a seleção das famílias, o peso igual ou inferior a 1.500 gramas, a partir da listagem fornecida pela Unidade Neonatal do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Júnior, que contém o nome, endereço, peso de nascimento e idade gestacional. O convite às famílias para participarem do Projeto é realizado ainda durante a internação da criança, na Unidade Intermediária da UTI Neonatal, no primeiro contato do visitador e monitor com a família, oportunidade em que é explicado seu funcionamento.


O perfil da clientela, na sua grande maioria, é de famílias com baixo poder sócio- econômico e cultural, com bebês nascidos antes da 37a semana de gestação. Ao nascer, permanecem em incubadoras, precisam de aparelhos para auxiliá-los a respirar, ficam ligados a vários monitores e bombas de infusão, necessitam fototerapia e demais aparelhagem tecnológica, apresentam sequelas mais ou menos graves, quadros de convulsão, problemas respiratórios e dificuldade para adquirir peso e altura compatível com sua idade. A amamentação torna-se quase impossível, as hospitalizações frequentes dificultam a criação do vínculo da família com a criança.

Destacamos dois focos para a execução deste Projeto: Estimulação e Acompanhamento
Multiprofissional. Estes focos possibilitam a efetiva criação de vínculo e afeto entre a criança e a família, cientificamente comprovados como sendo o marco inicial para todo e qualquer processo de desenvolvimento. A estimulação é fundamental para o desenvolvimento pleno das capacidades das crianças. O Acompanhamento Multiprofissional pressupõe a continuidade de orientações e/ou esclarecimentos às famílias quanto ao DNPM das crianças, através dos mais variados profissionais (pediatra, pediatra-pneumologista, cirurgião etc.) e instituições como APAE, Escola de Cegos, Posto de Saúde, Hospital Universitário entre outros, o que viabiliza o atendimento às mais variadas necessidades destas crianças.

Credita-se o êxito dessa experiência à Intersetorialidade, cuja coordenação é responsabilidade da Secretaria Municipal da Saúde compartilhada com as Secretarias Municipais de Educação e Cultura, e da Cidadania e Assistência Social. O Programa conta também com o apoio das demais Secretarias Municipais, setores privados como empresas e mídia, juntamente com a comunidade rio-grandina em geral. Pela importância do eixo Intersetorialidade, ressaltam-se alguns aspectos positivos decorrentes desta experiência:
• O Visitador do Projeto participa de capacitações continuadas, de forma dinâmica
e interativa, com os mais variados profissionais da área da Educação, pela iniciativa da
coordenação do Programa e do Monitor do Projeto, vinculados à Secretaria Municipal de
Educação.
• Os encaminhamentos e/ou procedimentos necessários aos recém-nascidos e oferecidos pelos pediatras, médicos especialistas e setor de medicações são efetivados através de vários profissionais da área da saúde.
• Os encaminhamentos às instituições como APAE, Escola de Cegos, acompanhamento domiciliar, aquisição de documentos e encaminhamento a programas são efetivados através de vários profissionais da Secretaria de Cidadania e Assistência Social.

Merece destaque também a participação da comunidade rio-grandina em geral, pela possibilidade de oferecer às famílias do Programa momentos de interação e lazer, através das atividades comunitárias realizadas, incluindo-se o Projeto “PIM – Crianças Egressas da UTI Neonatal”.
Constata-se, portanto, a validade do trabalho intersetorial, por meio das parcerias conquistadas pelo PIM, pelo resgate do papel das famílias e pela valorização dessas com o efetivo cumprimento de seus direitos e deveres.


Conclusão
“A prematuridade e o baixo peso ao nascer são fatores determinantes da mortalidade neonatal, de infecções, de maiores taxas de hospitalizações, maior propensão ao retardo de crescimento, déficit neuropsicológico pós-natal e baixo desempenho escolar”.

Organização Mundial da Saúde
Nossa experiência vem demonstrando que as famílias dos recém-nascidos, ao ingressarem no Projeto PIM – Crianças Egressas da UTI Neonatal, evidenciam uma fragilidade significativa em consequência da prematuridade, hospitalizações e/ou consequências das mesmas, mas gradativamente estão conseguindo lidar de forma positiva com suas dificuldades, evidenciando a importância das orientações recebidas, dos encaminhamentos e/ou procedimentos efetivados e principalmente da presença do lúdico na realização das atividades sugeridas que impactam positivamente no desenvolvimento neuropsicomotor das crianças. O depoimento de uma mãe atendida corrobora essa afirmação: “Considero o Projeto muito importante, pois apesar de ser mãe pela terceira vez, tenho aprendido muito. Constantemente o Projeto está me auxiliando, pois
minha filha nem se movimentava e agora consegue virar-se sozinha e está mais alegre”. O Relato de Experiência aqui apresentando tem como pretensão o constante e contínuo acompanhamento e a avaliação das ações desenvolvidas, objetivando a possibilidade de novas ações e/ou a ampliação das mesmas, considerando o relevante papel que o Programa Primeira Infância Melhor – PIM preconiza: redução da mortalidade infantil, menores índices de reprovação e evasão escolar e o resgate do papel da família. Enfim, melhores oportunidades e qualidade de vida às crianças e suas famílias.